quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Aflição

Chorem, não; pular o muro até que é divertido. Houvesse volta, todos deveriam tentar. Como não há, é melhor esperar. O que não é o caso para quem é aflito. Confesso que, antes de partir, tive a curiosidade. Será que vou ver tudo aqui de cima? Melhor dormir, que pensar nesses causos dá bom negócio, não. Falar de coração hoje em dia é falta de virilidade, né? Acorda. Volta, volta, volta. Num dá. Já fui. Deixa de viadeza. Dá uma rola pra ela que cê vira macho pra caralho. Esse tijolo velho, esse azul vindo lá de cima tá ofuscando minha visão. Consigo voltar, não. E agora tô aqui bancando as penitências do pregresso.

domingo, 15 de novembro de 2009

Meu primeiro amor

Tava youtubando pra passar o tempo com a chuva de ontem e trombei um clipe que não via há algum tempo: Falling In Love (Is Hard On The Knees), do Aerosmith. Tá, foda-se, você deve tá pensando. Pode ser um clipe como qualquer outro pra maioria das pessoas, mas não pra mim.


Eu tinha 10 ou 11 anos, não me lembro ao certo. Só sei que o ano era 1997, e naquela época eu era um protótipo de gente que só sabia jogar videogame e três dentro-três fora na rua. Num belo dia, tava vendo TV e comecei a zapear sem o menor compromisso com nada.

De repente, me vem aquele cidadão com cartola, um "love" enorme escrito em letras verdes frorescentes (BLUE, Ice) e, lógico, um som fudido de bom. Só deu tempo de pensar QUE BEM LOUCO. Cabou o clipe, e eu lembro de ter ficado, assim, meio EUFÓRICO.

Pronto. Eu acabava de ser introduzido (ui) no mundo do rock.


I feel like I have been hit by a fuck

Dei uma puta sorte. Naquela época, eu tinha uma TV de madeira (ok, era o acabamento, não a TV em si). Vez ou outra, a antena voltava a me amar e sintonizava uns canais de compra e outras coisas meio nada a ver. Cara, eu juro: nem sabia que a MTV existia!

(Também, né... Convenhámos: Prum pré-adolescente dos anos 90, o mundo televisivo se resumia à Chaves & Chapolin, Sessão da Tarde e Emanuelle na Band nas noites de sexta-feira)

Mas voltemos ao motivo do post.

No dia seguinte, procurei de novo o canal em que eu havia visto o clipe. E fui me inteirando da programação. Na época, os VJs eram o Gastão no Hits MTV (melhor programa de todos), o Cazé no Teleguiado e a Sabrina no Top 10 - nessa época eu nem sabia o que era jabá.

Lembro que o Top 10 reprisava às sete da manhã. Como eu entrava na escola só às 11h30, tive a brilhante idéia de acordar às sete da manhã só pra ver o clipe todo dia. E assim o fiz.

Eu torcia com a alma praquela porra ficar em primeiro lugar nas paradas. Ao mesmo tempo, fui descobrindo novos sons. O grunge (odeio esse termo, mas delimita bem) já tinha subido pro telhado, mas mesmo em 1997 a programação da finada ainda bombava Alice In Chains, Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e correlatos.

Também tinham os sons clássicos da primeira metade da década, tipo Faith No More, Living Colour, Red Hot Chili Peppers, Blind Melon, Guns N' Roses e por aí vai. Sem contar o Offspring do Ixnay On The
Hombre, Collective Soul com Precious Declaration, Dishwalla, Alanis Morissete pondo o pau na mesa com You Oughta Know...

Era lindo, amigos.

Engraçado que, quando criança, eu dizia que não gostava de música - como pode uma porra dessa, batima? Pouco antes de descobrir Falling In Love, eu tinha arranjado um rádio gravador. (Minha mãe trocou pontos da Telesena pra comprar - é sério).

Com umas fitas em mãos, comecei a gravar uns pôpero meio estranho na Jovem Pan, Shakira, Take That (#chuparobbiewillians), etc.
Nada, porém, que tenha maculado minha formação musical.

E tinha outra coisa: minha devoção ao capet... ao rock não foi influenciada por ninguém naquela época. Minha mãe tinha uma pá de vinil de samba, MPB e uns
cantores tipo Benito de Paula, mas ela raramente ouvia.


Eu mal conversava com meu pai àquela altura (depois o viado me mostrou Paradise City) e a garotada da minha idade era tão panda quanto eu em relação a assuntos musicais. Só mais pra frente que os muleque mais velhos me mostram outros sons, tipo uns classic rock e afins.

Foi um negócio totalmente espontâneo e involuntário, o que eu acho do caralho (sou mais roqueiro que vocês, chupa). Não ouvia discos dos meus irmãos mais velhos pelo simples fato de não ter irmãos àquela altura do campeonato.

É picuinha, mas às vezes fico intrigado: será que outras pessoas também fazem essas descobertas ao acaso?

Passou algum tempo, abandonei logo cedo o xiismo-trOO-odeio-pagode, daqui a duas semanas tem show do AC/DC e o fato é que estou prestes a celebrar o 13º aniversário do meu enlace matrimonial com o rock.

Que venha a boda de adamantium.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Bateu, sim!

Algumas coisas não mudam.

Quinta-feira, voltando pra casa, dormindo no busão. Acordo assustado, seco a baba e ouço a gritaria.

- Abre, abre, abre!

Um tiozão duns 60 anos, camisa bem alinhada e calça à altura do pescoço, espumava. Ensandecido, acusou o motorista de ter batido o coletivo no carro dele - Honda Fit tinindo.

- Como, se o busão tava parado?

E lá se foi o motorista, acompanhado de seu fiel ajudante, o cobrador. Perplexidade entre os passageiros, presos no coletivo. Enquanto isso, numa calçada da Nove de Julho, o tiozão do Fit continuava chilicando, tipo criança que não ganhou Playstation 3 de aniversário.

- VOCÊ BATEU SIM! VOCÊ BATEU SIM! VOCÊ (dedo na cara) BATEU SIM!

Cobrador e motorista não observaram nenhum sinal de batida no bumba. A mulher do véio pitizento argumentou que os passageiros do ponto testemunharam a cena. Nenhum deles se manifestou.

Logo veio a suspeita: armação para engambelar seguradora.

Também veio o nervosismo. Passageiros começaram a gritar para saírem dali. Do nada surge o reclamente, e tira a chave do contato do busão. O cobrador parte pra cima, e ouve:

- Você é polícia? Não? Então foda-se!

O tiozão leva a chave consigo. Aproveita distração do motorista, manobra o carro, sai pela calçada. Pela calçada, e com a chave. Cobrador: "ele levou a chave?". Motorista: "caralho, levou!".

E disparam a correr.

Alcançam o meliante parado num semáforo alguns metros adiante, esquina com a São Gabriel. Joga a chave longe, cai dentro dum prédio. E volta pra casa com o carro misteriosamente amassado.

Passageiros, já na rua, olhavam atônitos, indignados. Ofereciam-se para serem testemunhas do motorista do busão.

Tentavam, aturdidos, entender as razões daquele ato bizonho de egoísmo e mesquinharia. No fundo, sabiam que algumas coisas realmente não mudam.

domingo, 11 de outubro de 2009

Aforisma #1

Macarrão, um amontoado de discos, amor dobrado e Coca-Cola. A alegria está nas ruas, mas é numa casinha de subúrbio que vive a felicidade plena do Carnaval.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Noite

Sentia frio, mas o termômetro batia quase no três digitos. Não sabia donde vinha aquela sensação. Não era metereologia, é certo. Frio do mundo, da vida, do outro. Quiça de si mesmo. Estava a procurar o calor, mas só encontrara pedras, uma confusão no meio da rua e uma alma quebrada. Faltava pouco. Em instantes, mais nada veria. Cerrar-lhe-ia os olhos com o adeus à luz. Em deus não botava fé, mas nele - conte pra ninguém - buscava impulso pro acordar seguinte. Travesseiro, despertador, cabeceira. Amém. É o frio.

sábado, 12 de setembro de 2009

Backspacer




Meu faixa a faixa para o Backspacer, novo álbum do Pearl Jam. Confere aí:

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Gonna See My friend:
rock n' roll direto ao ponto. 8

Got Some: rock n' roll nem tão direto ao ponto assim. Paradinhas para a virada de bateria brocham a música. 5

The Fixer: tentativa tardia e constrangedora de inovar com influência de Devo e sons dos anos 80. Pior música do Pearl Jam desde Evacuation. 2

Jhonny Guitar: outra música que mostra uma influência de new wave nem tão interessante assim. Guitarrinha quebrada torna a música despretensiosa. 6

Just Breathe: sobra do Into the Wild? Música bonita, mas Eddie Vedder ficou com preguiça de pôr emoção na bagaça - se trabalhasse mais os vocais como em Nothingman, por exemplo, ficaria espetacular. 7

Amongst the Waves: maravilhosa. Arranjo de guitarras perfeito, chega a arrepiar. Melhor música do CD. 10

Unthought Known: consistente. Eddie vedder canta nessa música. 8

Supersonic: cada disco tem a Spin The Black Circle que merece. 8

Speed of Sound: outra sobra do Into the Wild? Bela canção, mas não tem nada demais. 7

Force of Nature: melodia tensa prende o ouvinte. Refrão e pré-refrão pegados e com um ótimo 'crescendo'. Solo de guitarra populista pra caramba - parece que foi feito pelo The Calling. Mas e daí? Músicassa. 10

The End: Mais uma que parece sobra do Into the Wild. A essa altura, fica repetivivo. Boa. E só. 6


Ao fim e ao cabo, Backspacer é um bom álbum. Peca pelo excesso de baladas com violão, e pelos tiques oitentistas. Voz de Eddie Vedder sensivelmente mais frágil desde o último álbum. Ainda assim, com um pouco de audição pode se tornar o melhor disco da banda desde o Binaural.

Nota: 7,5

E você, o que achou?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Outro dia para ser esquecido

O segundo em menos de um mês. Isso diz muito sobre o andar da carruagem.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Um dia para ser esquecido

Olhava-se no espelho com uma pergunta incômoda: como conciliar razão e emoção? De soslaio, como se o demônio de consciência o espreitasse, fitava o redor e repetia, como um mantra de livro de auto-ajuda: como conciliar razão e emoção? Não tinha certeza, mas acreditava que a essa resposta chamavam de felicidade. Carregava em si a culpa do mundo, embora se sentisse injustiçado por uma sensação que não merecia. Pensava, pensava, pensava. Para ele, a auto-crítica era um processo transcendente. Para pior. Tinha vergonha de admitir, mas sofria. E muito. Não queria ser visto como um fraco, logo quem, num exercício prático da razão, definia de antemão seus passos rumo à.... o que mesmo? Não importava; a essa altura, enquanto o relógio batia sonolento à beira da cama, queria mesmo era estatelar-se em meio às cobertas para sorrir sob o sol gelado do mês de julho. Amor. Felicidade. Abstrações do coração de um homem cuja cabeça vazia nunca desistira de encontrar.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Jornada

São 18h30, o tempo está ameno. Até então, Diego - vestido com calção e chuteira para jogar bola com os amigos à tarde, o que evidentmente não se concretizou - não havia visto a cor do céu. O plantão em casa começou às 7h30.

- Mãe, vou ali na farmácia rapidinho.
- Tá bom filho. Põe uma blusa, esfriou.
- Tá bom assim.

Três minutos depois, Diego está de volta.

- Mas já, filho? - perguntou, intrigada.
- É, a farmácia tá fechada - respondeu. E completou:
- Esqueci que era feriado.

- Ah.

Subiu as escadas e voltou ao trabalho no computador. O plantão acabou às 23h45.

Ainda não há informações sobre uma eventual dor de cabeça. A hipótese de hora-extra já está de antemão descartada.

domingo, 18 de maio de 2008

Domingo

Eduardo cruzou as ruas do bairro numa noite fria em busca de um cigarro para acalmar os nervos. Parou na padaria, tirou uns trocados do bolso e estendeu a mão em direção à caixa registradora. Voltou-se para a saída do lugar, cujas portas estavam prestes a fechar - passava das onze da noite. Deu alguns passos adiante, olhou para o céu azul e conferiu a integridade do maço que acabara de adquirir. Era um pacotinho vermelho de Free. Costumava fumar Marlboro, mas estivera comprando a nova marca há algumas semanas numa tentativa infrutífera de livrar-se do vício. Livre ali, no entanto, apenas sua incontornável ansiedade.

Depois de refletir um pouco, Eduardo limpou o nariz - que escorria por conta de uma gripe que o acometera no final de semana. Vinha trabalhando muito, sem tempo para cuidar da vida; nas horas vagas, dedicava-se à leitura, aos filmes, às visitas aos amigos. Às vezes tinha preguiça de si próprio. Tentava, no entanto, arrumar um objetivo, uma companhia, um desafio qualquer -buscava para si algo palpável para aplacar sua mal-disfarçada solidão.

Enquanto caminhava de volta para casa, seus olhos castanhos fitavam o ambiente a seu redor, esquivando-se das mechas de cabelo que teimavam em cair a sua frente. Esquerda, direita, à frente, rodeava o olhar como se temesse algo. O frio aumentara, e as rajadas de vento pareciam cada vez mais densas e rápidas. Suas olheiras estavam bastante profundas.

Então, o inesperado.

- Oi - exclamou, incrédulo.
- Olá! Sumido, heim? - disse ela, com um sorriso que o lembrava de tempos imemoriais.
- Pois é.
- E aí, tá bem?
- Podia estar melhor, é verdade. Mas ainda estou vivo. E você?
- Nunca estive tão bem, sabia?
- Legal - falou Eduardo, virando o olhar para o infinito. Encarou o comentário como uma provocação, mas preferiu ignorá-lo. E prosseguiu: - Sonhei com você uns dias atrás.
- Mesmo?
- É.
- Aposto que foi um pesadelo - disse ela, sem conter a gargalhada.
Eduardo não disse, mas pensou consigo mesmo:
- Ganhou a aposta.

Ficaram ali, no frio, a rua sem carros nem gente, conversando por alguns segundos - um par de minutos, no máximo - enquanto pensavam numa maneira de se livrarem daquela coincidência infeliz. Eduardo vestia bermuda verde-milico, botas marrons, meias pretas e uma blusa de capuz cinza. Inexplicavelmente, o nariz parou de incomodá-lo. Ela, por sua vez, calçava tênis brancos e gorro, refugiando-se da baixa temperatura com uma lã marrom e surradas calças jeans. Mesmo desconfortável, Janaína possuia enorme talento para lidar com esse tipo de desencontro - experiência adquirida depois de alguns anos de relacionamentos atribulados e mal-resolvidos.

- O que você faz aqui, e a essa hora?
- Estava de passagem e parei pra comprar um chiclete.
- Não sabia que você ainda frequentava essas bandas - brincou Eduardo, querendo acreditar que a presença daquela mulher ali tinha a ver consigo próprio. Sabia que ela nunca admitiria isso, mesmo se fosse o caso. Freqüentemente nutria pensamentos desse tipo sem saber exatamente o por quê.
- Tenho que ir. Estão me esperando no carro.
- Até.

Queria burlar a curiosidade, mas sabia quem a aguardava dentro daquele carro branco velho e enferrujado. Deu uma espiada, e recordou um dos personagens do sonho que tivera semanas antes. Esfregou as mãos para se esquentar e manteve o andar calmo rumo a seu sobrado grande e velho, que ficava numa viela a algumas quadras dali e onde vivia só. Continuou a caminhar.

No dia seguinte, Eduardo acordaria as seis da manhã para pegar o ônibus (lotado como de costume) e trabalhar. Aparentemente, estava feliz pela proximidade do salário - faltava uma semana para o dia 5. Seria uma segunda-feira qualquer, não fossem as páginas policiais, onde se lia que um jovem de 22 anos estava desaparecido desde o último domingo.

Fora visto pela última vez comprando cigarros na padaria do bairro.